A resistência da embocadura de um trompista e do corpo em geral encontra-se diretamente relacionada com a energia disponível e a forma de tocar. É algo que se pode relacionar com um automóvel...
Como conduzir mais depressa maiores distâncias, consumindo menos combustível?
À medida que se tocam frases mais longas ou se avança para o registo agudo torna-se ainda mais difícil ter resistência.
A minha abordagem inicial geralmente passa por usar o máximo de ar (combustível), mesmo que inicialmente signifique respirações extra, para permitir que alcancemos os nossos objectivos. Depois, numa segunda fase, a ideia é "afinar o motor" de forma a que se consuma menos combustível no mesmo percurso, ou seja, conseguir o mesmo objectivo musical com menor quantidade de ar.
Quando falamos de Johannes Brahms (1833-1897), Gustav Mahler (1860-1911) ou de Richard Strauss (1864 -1949), a problemática da resistência muscular da embocadura ganha ainda mais ênfase, pela especificidade do tipo de escrita destes compositores.
Para obras de compositores alemães e austríacos nada melhor do que praticar os estudos lentos de Oscar Franz (1843-1886), começando pela página 61 do seu Grosse theoretisch-practische Waldhorn-Schule com os estudos 2-5; 9-11; 19-22; 26 e 28-29. Mais tarde, com os estudos concertantes da página 86 do mesmo livro.
Praticando todos os dias cada estudo, após um bom aquecimento, começando sem repetições numa transposição grave subindo meio tom todos os dias até chegar a Fá, seguindo por exemplo o seguinte padrão:
(vamos saltar propositadamente a transposição do diabo...)
SEG |
em transposição Si bemol grave |
TER |
em transposição Dó |
QUA |
em transposição Ré bemol |
QUI |
em transposição Ré |
SEX |
em transposição Mi bemol |
SAB |
em transposição Mi |
DOM |
em Fá! |
Sem pressa!
Quando, mais tarde, executar os estudos com as respectivas repetições é importante, pelo menos inicialmente, aguentar do início ao fim e reflectir sobre os momentos em é possível relaxar a embocadura, guardando energia para o clímax de cada estudo, mesmo que se tenha de reduzir a amplitude de dinâmicas. Depois, gradualmente executar todas as dinâmicas escritas e, caso queira continuar para o próximo nível, poderá mesmo tocar cada estudo duas vezes sem parar com repetições.
Para seguir a sua evolução, anote a data e em que compasso começou a sentir cansaço e em que compassos a sua embocadura entrou em colapso. Depois compare a sua evolução depois de algumas semanas... por essa altura poderá não estar ainda totalmente satisfeito com a sua forma de tocar, mas olhar para trás e ver onde esteve e onde está, ajuda a re-estabelecer os nossos objectivos e a restabelecer energias
Importa distinguir dois tipos de resistência: a de curta e longa duração.
A resistência de curta duração depende da energia de que o corpo dispõe para aguentar uma passagem difícil mas curta. A resistência de longa duração depende da resiliência (capacidade de recuperação do corpo) e da gestão energética durante um concerto. Ambas dependem directamente da prática diária mas poderão beneficiar igualmente de um criterioso planeamento que passa por encontrar momentos, em que é possível descansar (tocar com menos energia), poupando-se assim para quando for necessário tocar com mais energia.
Também poderá ser útil usar um plano de trabalho como o que apresento no meu site:
Como melhorar a resistência da sua embocadura? uma vez que, por vezes, a falta de resistência pode estar relacionada com uma pratica exagerada e não planeada.
A importância pedagógica dos estudos de Oscar Franz não se esgota no trabalho da resistência. Trata-se de excelentes estudos para praticar condução de frases e sonoridade.
Embora a forma de trabalhar e o tipo de trabalho ajudem a melhorar a resistência muscular poderá ser adoptada a seguinte regra de ouro:
Nenhum trompista terá resistência sem uma prática regular!